quarta-feira, 7 de maio de 2008
Um pedacinho de história na escola
Durante o período escolar muito se aprende sobre a história mundial e do Brasil. Dentre os conteúdos abordados nos estabelecimentos de ensino está a história dos Sete Povos das Missões. Os professores orientam as crianças quanto à vinda dos Padres da Companhia de Jesus para o Brasil e a catequização dos indígenas nativos daqui. Os estudantes também têm conhecimento da construção das Reduções Jesuíticas e dos Tratados Político-territoriais da época. Para ilustrar toda essa história, professores e alunos visitam os patrimônios arqueológicos missioneiros, especialmente na cidade de Santo Ângelo e de São Miguel das Missões, na tentativa de resgatar e compreender melhor a história e a cultura do Brasil colônia nas terras do Sul. Foi isso o que fizeram os professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Salto Grande de Derrubadas – RS.Os alunos da 5ª e 7ª séries do ensino fundamental da Escola Salto Grande de Derrubadas estudam a história do Rio Grande do Sul desde os anos da colonização do Brasil. Em certo ponto dos conteúdos estudados, os professores abordam o início da catequização dos indígenas nos Sete Povos das Missões e os tratados políticos de delimitação de terras. Tradicionalmente, os índios sempre lutaram para manter sua independência e seus direitos culturais. E, tradicionalmente, esses direitos foram ignorados. Os conquistadores espanhóis e portugueses impuseram seu idioma e seus valores aos índios em toda a América do Sul desde o início do século XVI. Entretanto, houve uma outra influência esmagadora que deixou uma marca permanente nos índios: o Cristianismo.A escola trabalha bem a questão das Missões. As crianças e pré-adolescentes entendem o objetivo dos Jesuítas que aqui se instalaram em 1609: converter os índios Guarani à fé cristã, bem como contribuir para a implantação do Império Espanhol na colônia. A história prossegue: para facilitar o trabalho, o governo espanhol, juntamente com os Padres Jesuítas, organizaram o sistema de Reduções. Nas reduções, além de atividades religiosas, os índios praticavam e aperfeiçoavam novas formas de cultura, impostas pelos Jesuítas. Em 1750 o Tratado de Madrid delimita a troca de terras entre Portugal e Espanha. O Império Português assumiu os territórios dos Sete Povos das Missões. Os índios e Jesuítas não abandonaram as terras e em 1754 teve início a Guerra Guaranítica: os guerreiros guarani, liderados por Sepé Tiarajú, foram massacrados num episódio sangrento de nossa história.Muitos símbolos e esculturas ainda são expostas em museus na região das Missões e cada um conta um pouquinho de história às novas gerações. Geralmente, as escolas promovem excursões para locais como Santo Ângelo, onde os alunos podem visitar a Catedral Jesuítica e o Museu Municipal, foi o que a direção e professores da Escola Salto Grande fizeram.Em Santo Ângelo os alunos visitaram a Praça Municipal Pinheiro Machado que foi construída no local onde se encontrava a Redução Jesuítica de Santo Ângelo Custódio. A visitação dos alunos foi prejudicada devido às obras de recuperação do Centro Histórico. O projeto de restauração na capital missioneira é uma parceria entre o Governo Federal e a Prefeitura Municipal de Santo Ângelo, sendo que o investimento total na capital missioneira chega a R$ 1,5 milhão.A parte interna da Catedral também está sendo reformada, mantendo-se as formas arquitetônicas e as pinturas iguais. Segundo o artesão André Westhauser, os formatos dos desenhos são mantidos fielmente utilizando gesso na restauração dos mesmos. O artesão de Salvador do Sul ainda conta que a Catedral já está em reforma há dois anos. Isso faz com que a igreja fique fechada, sendo impossibilitada a visita. Westhauser trabalha 14 dias, sem descanso, na obra, então, passa 7 dias em Salvador do Sul ao lado da família.A cidade de Santo Ângelo conta também com o Museu Municipal Dr. José Olavo Machado, que contém várias peças que ilustram o desenvolvimento histórico aos estudantes Derrubadenses. A professora Clotilde Farias, 56 anos, diretora do museu há 14, conta que o nome – Dr. José Olavo Machado – é uma homenagem ao advogado, político e professor de Santo Ângelo que doou o prédio onde foi instituído o museu. “A administração deu o nome dele ao museu, tendo em vista que o próprio iniciou com a sua coleção: alguns livros e objetos pessoais”, afirma a professora Clotilde.Os estudantes que visitaram o museu tiveram a oportunidade de conhecer o material oriundo do período jesuítico-guarani que foi resgatado no mesmo local da antiga Redução de Santo Ângelo Custódio, no entorno da atual Praça Pinheiro Machado. O trabalho de salvamento dos vestígios arquitetônicos do passado histórico vem sendo desenvolvido pela equipe do Museu Municipal, orientado no sentido de recuperar, preservar e divulgar o valioso patrimônio herdado de nossos antepassados.O projeto de restauração dos patrimônios históricos de Santo Ângelo beneficiou também o museu. Esse fato acabou dificultando o acesso às peças. Porém, em espaço reservado, algumas estão expostas. Para ajudar no entendimento da história, os visitantes, neste caso, os estudantes, são orientados pela professora Clotilde, diretora do museu. Ela conta que a Redução de Santo Ângelo teve início a partir de 1706: “essa data é muito significativa, porque no ano passado iniciaram-se as comemorações dos 300 anos de fundação da Redução que deu origem a essa cidade, por isso toda essa restauração no centro cultural”, afirma a diretora do museu. A professora continua a explicação: “O museu também foi premiado com a restauração, já que é um dos primeiros prédios que foi construído. Era uma residência de família de um dos primeiros portugueses que vieram para cá, na realidade era a quarta família que chegou aqui, quando passou todo aquele trabalho dos Padres Jesuítas. Com a assinatura do Tratado de Madrid, esse território passou a pertencer a Portugal. Então, os portugueses se estabeleceram por aqui e utilizaram o material que estava à disposição, que eram as pedras da qual são feitas as paredes externas da casa, que tinham sido da casa dos indígenas da Redução. Por isso, o museu é um prédio histórico, já estava sentindo algumas necessidades e se conseguiu com o projeto, dentro dessa comemoração dos 300 anos de fundação da Redução, que ele fosse também restaurado”.Na área que está reservada a algumas peças do museu, os alunos encontram uma maquete representando a estrutura da Redução de Santo Ângelo Custódio. Quando os jovens estudam a história missioneira, é transmitido a eles que a estrutura das sete Reduções Jesuíticas eram iguais: todas eram construídas com a frente virada para o Norte; a igreja no centro, tendo o cemitério a esquerda e as oficinas a direita; na entrada das Reduções o Cabiudo (parte administrativa) e o Potiguaçú (abrigo das índias viúvas e das crianças órfãos). Porém, segundo a professora Clotilde, a Redução de Santo Ângelo Custódio tinha diferenciais: “Enquanto as outras seis Reduções tem sua frente construída voltada para o Norte, a de Santo Ângelo é voltada para o Sul. E o Potiguaçú é localizado na entrada da cidade (Redução)”, afirma a diretora do museu.Os alunos da 5ª e 7ª séries da Escola Municipal de Ensino Fundamental Salto Grande, da cidade de Derrubadas-RS, tiveram a oportunidade de visitar Santo Ângelo, mas foram prejudicados pelas reformas. Partiram, então, para São Miguel das Missões, conhecer um pouco mais da história da primeira Redução Jesuítica – São Miguel Arcanjo.Em São Miguel das Missões os estudantes tiveram a oportunidade de adquirir o artesanato indígena da atualidade, além de observarem as esculturas feitas há mais de 300 anos e admirar a beleza incomparável das ruínas de um dos maiores projetos arquitetônicos do passado. À noite, ainda foram convidados a assistir o espetáculo “Som & Luz”, que conta um pouquinho da história das Reduções.O Secretário Municipal de Turismo, Desenvolvimento e Cultura, Alfonso Fencaten, comenta que entre os meses de setembro e dezembro o Sítio Arqueológico recebe, em média, 10 mil visitas mensalmente. Atribui o fato à grade do currículo escolar. Antônio Neto, segurança do Sítio há 12 anos, afirma que o fluxo de visitantes das escolas é muito grande, mas que, mesmo assim, recebem muitas visitas de turistas da Alemanha, dos Estados Unidos, da Polônia, Argentina e do Uruguai. Neto conta também um pouco de história à quem conversar com ele. Explica que o Sítio Arqueológico foi tombado como Patrimônio Histórico Federal, possuindo uma área de 25 hectares. Segundo ele, a torre da Igreja, de 25 metros de altura, já foi atingida por três raios, isso nos 12 anos em que trabalha no Sítio, o que acabou contribuindo para a danificação da obra arquitetônica.Os indígenas que comercializam seu artesanato moram em uma reserva há 15 km do Sítio. Cada família passa uma semana vendendo seu produto, então, nesse período alocam-se em uma casa de passagem dentro da área federal. No total, segundo o Secretário Fencaten, são 26 famílias indígenas que vivem do artesanato.Para as crianças da Escola Salto Grande de Derrubadas esse contato com a cultura indígena e com a arquitetura barroco-missioneira foi muito bom. Elisiane Elsenbach, 11 anos, aluna da 5ª série diz o seguinte em seu depoimento sobre a excursão: “Eu gostei muito das Ruínas! Tinha muitas coisas legais, até comprei um chaveirinho e um porta caneta. Nós fomos olhar o Potiguaçú, o cemitério; olhamos dentro das Ruínas e lá não tinha telhado”. A aluna Patrícia Bomm dos Santos, 11 anos, também da 5ª série, afirma: “Eu gostei muito da viagem e até de andar de ônibus! Quando vi as Ruínas pensei que estava sonhando, e isso me ensinou muito”. É possível perceber o fascínio que São Miguel das Missões causou nos estudantes de Derrubadas.O Sítio Arqueológico também possui um museu interno, no Pavilhão Lúcio Costa, onde são expostas muitas esculturas da época jesuítico-guarani. O aluno da 5ª série, Sidinei da Luz, 11 anos, diz: “Eu gostei muito das Ruínas, porque tinha muitas coisas legais, como um sino de 910 kg”, referindo-se a um sino que pode ser encontrado no Pavilhão. Venicius Piaseski da Silva, 15 anos, aluno da 7ª série diz: “Eu gostei das explicações. Isto conta um pouco mais e aprofunda os estudos. O lugar é muito bonito, contando com um museu com caricaturas feitas de madeira e os sinos que eram daquela época. Melhor é o feito da construção da igreja... Como eles construíram usando somente pedras e barro para o alicerce? A cidade de São Miguel é muito bonita com seu ponto turístico”.O contato com os indígenas também contribui um pouco com o aprendizado dos alunos. Eles podem comparar a vida antiga dos índios, a qual aprenderam na escola, com a vivência atual. Gabriel Michta, 11 anos, aluno da 5ª série dá seu depoimento sobre a viagem: “Eu gostei muito, adorei! A viagem me ajudou a conhecer um pouco mais da vida deles (os índios) e do sofrimento das guerras”. Felipe Sell, 13 anos, da 7ª série, afirma: “Eu gostei muito de ir às Ruínas de São Miguel, e lá nós aprendemos como era a vida dos povos indígenas. À noite assistimos ao espetáculo “Som & Luz” que contou a história dos povos indígenas que lutaram até a morte para salvar suas terras”.À noite os alunos da Escola Salto Grande assistiram ao espetáculo “Som & Luz”. Segundo o diretor do show, Walter Rodrigues Braga, “Som & Luz é um produto turístico que cada vez mais impressiona nosso visitante”. O espetáculo, apresentado há 29 anos, é mantido com o dinheiro proveniente do ingresso de R$ 5,00 ou R$ 2,50 para estudantes.Os alunos da Escola Salto Grande gostaram muito do espetáculo. João Darlan Pilatti, 12 anos, aluno da 7ª série, afirma: “Achei tudo muito legal! Gostei bastante do lugar, das próprias ruínas e principalmente de como a história é contada no espetáculo Som & Luz. Eu acho que é importante, também, a presença dos índios vendedores, que ainda falam sua língua”. A aluna da 7ª série, Juraci Inês Ferreira, 15 anos, faz menção ao que aprendeu em sala de aula: “A viagem para as Ruínas de São Miguel foi bem interessante. Vimos coisas que foram apresentadas em sala de aula, coisas que as professoras contavam. O espetáculo de Som & Luz contou um pouco mais da história dos índios guarani. Vale muito essa viagem!”.A história dos povos das missões é muito linda e muito importante para os jovens estudantes. É notável que todos gostaram de conhecer mais sobre a história de nosso estado. “Eu gostei da viagem para São Miguel das Missões porque conheci muitas coisas boas, coisas novas, isso fez eu conhecer melhor a história do nosso Estado, o Rio Grande do Sul”, afirma Alisson Tibola, 12 anos, aluno da 7ª série. Os jovens estudantes reconhecem a importância da viagem em suas vidas e tem consciência de que não são todos que tem oportunidade de conhecer uma das maiores maravilhas de nosso Estado. Mauricio Barbosa Rodrigues, 15 anos, aluno da 7ª série afirma: “Gostei da viagem! É muito interessante, além de fazer uma viagem de estudo, a gente se diverte. Gostaria que todas as crianças carentes também tivessem essa oportunidade que nós tivemos. Só uma coisa eu tenho certeza: gostei muito!”.
Postado por Tiago Marcelo Albarello
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